quarta-feira, setembro 10, 2008

algo sobre o 11 de setembro

11 DE SETEMBRO
Dia da Infâmia. Esta data ficará marcada na memória dos povos, pois neste dia ocorreram dois fatos marcantes, com reflexos importantes na história mundial. Em ambos percebemos o significado da política imperialista e nos levam a refletir sobre os vários interesses em jogo que, apesar de distantes no tempo, guardam estreita relação entre si.

11 DE SETEMBRO, dia internacional da infâmia.
É fundamental mantermos nossa memória viva. É fundamental relembrar e refletir sobre o sentido e os efeitos dos atos praticados neste dia, atos de minorias que pretenderam alterar as estruturas vigentes.
O primeiro ato a ser lembrado comemora 29 anos. Foi no dia 11 de setembro de 1973 que as elites chilenas, apoiadas no exército e pela CIA, agência de inteligência do governo norte-americano, deram um golpe e derrubaram o presidente Salvador Allende no Chile. Dessa maneira o governo da Unidade Popular começou a ser eliminado, assim como as conquistas, principalmente políticas. Nos dias 11 e 12 a resistência implicou na organização popular nos bairros e fábricas, onde populares e operários tomaram em armas, porém sem infra-estrutura ou prepara, forma massacrados. Na primeira semana de golpe foram mortas cerca de 9000 pessoas; ao longo da ditadura de Pinochet forma cerca de 30.000.

A História do Chile é, em vários aspectos, muito semelhante à de outros países da América latina, que por trezentos anos foram explorados pela Espanha; e ao mesmo tempo possui características bem peculiares.

La Moneda
La Moneda O movimento de Independência do Chile entre 1817 e 18, liderado por Bernardo O’Higgins, libertou o país da dominação secular espanhola, porém colocou o novo país na órbita do imperialismo inglês, uma vez que, a partir da década de 20 as oligarquias conservadores assumiram o controle político do país, apoiada pela Igreja Católica, preservando portanto os privilégios da elite criolla. Nesse sentido, a vida econômica do país continuou a basear-se no latifúndio agrário e pecuarista na região sul e na exploração mineral na região norte. A sociedade era formada por uma grande massa de trabalhadores assalariados e por uma pequena elite, sendo parte ligada ao latifúndio e parte ao setor exportador e financeiro. Essa elite manteve o poder político até 1881, quando foi substituída por uma nova elite, caracterizada porém por uma postura liberal e nacionalista, destacando-se o governo de Juan Manuel Balmaceda ( 1886-91) que realizou importantes reformas sócio econômicas e acabou por ser derrubado após uma pequena guerra civil. O “Parlamentarismo Chileno” (1891 1925) tornou-se então a fórmula política para que os conservadores mantivessem o poder. A eleição do Presidenta da República deveria ser confirmada pelo Congresso Nacional. A primeira metade do século XX conheceu momentos de desenvolvimento industrial e urbano, aproveitando-se das Guerras Mundiais e ao mesmo tempo aumento da dívida externa, da inflação e da dependência em relação ao capital internacional. Desde a década de 20 era o imperialismo norte americano quem detinha maior influência sobre a economia do país e controlava principalmente a exploração de minério ( em especial o cobre). Ao mesmo tempo o êxodo rural e o crescimento de atividades urbanas remodelaram a sociedade, originando um proletariado mais significativo, assim como uma maior camada média. Essas mudanças foram acompanhadas no terreno político com a formação de novos partidos políticos e sindicatos, tanto de esquerda como liberais nacionalistas. Apesar de não ter havido no Chile um líder populista tradicional, a situação política era bem semelhante à de outros países: Polarização. De um lado as forças populares em conjunto com a classe média empobrecida e de outro as elites do campo e da cidade apoiadas no capital estrangeiro e pela Igreja Católica. Essa situação é bastante evidente após a Segunda Guerra Mundial, quando a partir da Doutrina Truman inicia-se a Guerra Fria, percebida na América Latina com a criação do TIAR em 1948. O primeiro reflexo dessa nova situação foi a aprovação da Lei da Defesa da Democracia ( chamada Lei Maldita), de 1948, que serviu para promover perseguições políticas `a líderes sindicais e de partidos de esquerda. Mesmo com as perseguições, a organização popular tendeu a se fortalecer: em 1951 formou-se a Frente do Povo ; em 1953 foi fundada a Central Única dos Trabalhadores e em 1956 foi formada a FRAP ( Frente de Ação Popular). Essas novas organizações refletiam a situação de decadência econômica do país, fruto da queda das exportações e da maior inflação. Na década de 60 desenvolveu-se uma nova alternativa política, o Partido Democrata Cristão - PDC - que atraiu as camadas urbanas, inclusive parte do proletariado. O Governo do PDC a partir de 1964 foi marcado pelo projeto desenvolvimentista, apoiado em etmpréstimos externos, e pelo início de uma reforma agrária. No entanto, as superficialidades das medidas de Eduardo Frei descontentaram a maioria da sociedade, sendo queo próprio PDC dividiu-se em duas grandes facções ao passo que as camadas populares do campo e da cidade, apoiando as organizações de esquerda organizaram a Unidade Popular, que disputou e venceu as eleições de 1970, levando o socilaista Salvador Allende ao poder.
O segundo ato a ser lembrado ocorreu há 1 anos. Com certeza toda a imprensa falará sobre ele durante esta semana, não por ser mais recente, mas por ser mais interessante para as elites. Não que o atentado contra o governo norte-americano não deva ser lembrado, ao contrário, deve ser lembrado e compreendido. Um ato terrorista que deve ser veementemente repudiado, que matou mais de 2000 civis, e serviu para ampliar o preconceito em relação aos povos árabes e a religião muçulmana.

Contra o Terrorismo, Contra o Preconceito

Os ataques que ocorreram no dia 11 de setembro nos EUA, estão sendo considerados como os atos terroristas mais importantes da história recente mundial, por que atingiram a maior potência mundial e principalmente por que contam com a cobertura de todos os meios de comunicação de massa.
As cenas que chocaram o mundo foram repudiadas pelos principais governantes, de diversas nações do mundo. A morte de milhares de civis, em um ataque terrorista como esse, reforça o sentimento humanista e a posição contrária aos grupos ou pessoas que se utilizam deste método de ação.
O Terrorismo
Sem entrar em uma discussão acadêmica, podemos dizer que o terrorismo é a utilização sistemática da violência imprevisível, contra regimes políticos, povos ou pessoas.
No século XX, o terrorismo foi visto e aprendido por nós como a atitude violenta de grupos com ideologia definida, com um objetivo político traçado, que muitas vezes envolveram questões religiosas ou étnicas.
Do ponto de vista político, organizações de “direita” ou de “esquerda” se utilizaram do terror como prática, no intuito de derrubar governos e chegarem ao poder, e de uma forma geral, assumiram seus atentados como forma de propagar seus ideais. Do ponto de vista religioso, nas últimas décadas se avolumaram atentados de grupos políticos muçulmanos, mas também de grupos políticos cristãos, como o IRA, na Irlanda. No caso da luta étnica destacou-se principalmente o ETA, na Espanha, ou a Ku Klux Klan nos EUA (desde o final do século XIX)
No entanto, apesar de todos terem se utilizado da violência, as motivações são diferentes e devem ser analisadas historicamente de forma individual, a partir de suas características, para podermos compreender os elementos que as engendraram.
A partir de uma visão massificada, considera-se que os árabes estão sempre propensos ao terrorismo. De fato, nas últimas décadas proliferaram os grupos político-religiosos que, no Oriente Médio, adotaram a pratica terrorista como meio de luta. A região é vista como um barril de pólvora, mas qual a razão? É o fato de ser muçulmano ou árabe que determina essa situação?
Na verdade a idéia do “barril de pólvora” aparece após a 1° Guerra Mundial, quando os territórios do Oriente Médio, até então parte do Império Turco, foram colocados sob a “proteção” da Liga das Nações, representando na prática, a dominação inglesa e francesa. A Mesopotâmia, a Palestina e a Jordânia ficaram submetidas à jurisdição inglesa enquanto Síria e Líbano, à jurisdição francesa. Dando continuidade às práticas anteriores a guerra, grandes empresas estrangeiras se instalaram nesses países, interessadas principalmente no petróleo, exerceram forte dominação econômica e política na região, muitas vezes com a colaboração das elites locais, beneficiadas com o ingresso de novos capitais.
Nesse período a Inglaterra já apoiava oficialmente o movimento sionista de colonização de terras na Palestina, sustentado por vários fundos internacionais, destacando-se o Barão de Rottschild, grande banqueiro inglês, de origem judaica.
Após a 2° Guerra Mundial, a situação tendeu a se agravar, principalmente com a criação do Estado de Israel e o desenvolvimento de uma política agressiva por parte de sionistas, amparados pelos EUA.
As pressões imperialistas e sionista deixaram poucas opçoes aos povos dominados, levando uma parcela da sociedade a organizar grupos guerrilheiros e a promover o terrorismo.

Por suas conseqüências trágicas e seu grande apelo publicitário, o terrorismo é um dos temas favoritos da mídia. Por esse mesmo motivo a sua abordagem tem sido superficial, reforçando estereótipos e evitando a discussão sobre suas origens ou razões

O terrorismo de Estado
Ao longo da história percebemos que os Estados ou instituições com poder de Estado, se utilizaram do terrorismo. Mais interessante, é perceber como essas instituições de dominação, conseguiram contar com o apoio da maioria da sociedade nesses momentos.
Um dos grandes exemplos da história foi a Inquisição, praticada pela Igreja Católica na Idade Média e início da Idade Moderna. A maioria da população cristã da Europa sempre considerou justa e necessária a perseguição “às bruxas”.
O terror foi utilizado entre 1793 e 94 por Robespierre, líder da Revolução Francesa, como forma de preservar o poder e as conquistas populares e foi defendido por grande parcela da sociedade; foi praticado por Hitler e pelos nazistas contra os judeus, principalmente durante a Segunda Guerra Mundial, com o extermínio em massa de prisioneiros em campos de concentração. O terrorismo de Estado apareceu também com a idéia de limpeza étnica, posta em prática pelo ditador sérvio Milosevic, contra os habitantes da região do Kosovo.

Milosevic
O terror foi (e ainda é) utilizado pelos EUA, destacando-se principalmente o bombardeio de Hiroxima e Nagasaki no Japão, quando de uma Segunda Guerra Mundial praticamente já acabada, para mostrar ao mundo e a URSS, o poderio do “império americano”, não hesitaram em matar milhares de civis; ou ainda quando armam grupos guerrilheiros, como aconteceu no Irã, na Nicarágua ou mesmo no Paquistão e Afeganistão.
A partir de dezembro de 1979, o Paquistão tornou-se um aliado privilegiado dos EUA, pois o ditador Zia Ul Haq acolheu entre 3 e 5 milhões de refugiados afeganes depois da invasão soviética ao Afeganistão. Foi através do ditador paquistanês que os EUA passaram a dar ajuda financeira e militar à resistência no Afeganistão – a guerrilha mudjahidin – contra a ocupação soviética. É interessante lembrar que Zia Ul Haq tomou o poder em 1978 após um golpe militar, eliminou a frágil democracia no país e instaurou a Sharia – código islâmico que prevê o açoitamento, a amputação e o apedrejamento até a morte para os criminosos. Uma de suas primeiras vitimas foi o presidente “democrata” que ele havia deposto, enforcado em 1979.

O imperialismo
Enquanto a Igreja católica foi a “dona” do mundo (ocidental), durante o feudalismo, poucos ousaram questionar o seu poder e suas decisões. Aqueles que o fizessem, seriam também considerados hereges e teriam o um único destino, a fogueira.
Do mesmo modo, hoje poucos ousam dizer que os EUA “colhem os frutos da política que implantaram” ao longo do século. Os “senhores do mundo”, que se auto intitulam os “grandes defensores da liberdade” aparecem como vítimas de uma grande conspiração de forças malignas...afinal de contas, quem entre nós vai defender os atos praticados neste dia 11.
Muitos meios de comunicação reproduziram no dia seguinte (12 de setembro) uma frase proferida pelo presidente George W. Bush: "Hoje nossa nação viu o mal".

Se o atentado terrorista é o mal, quais são as forças malignas?
O poder da mídia fala mais alto. Os EUA aparecem como vítimas.
Notem, falamos dos EUA, não das pessoas que morreram nos atentados; essas, não há dúvidas, são vítimas, assim como foram os japoneses de Hiroxima, os judeus de Treblinka, os palestinos da Cisjordânia, os negros do Mississipi e muitos outros grupos ou mesmo povos.

Os EUA não, mas o povo norte-americano, de fato, nunca tinha visto o mal tão perto, pelo menos nessas proporções, neste último século. As grandes tragédias ocorreram fora do território norte-americano. Os EUA participaram das duas grandes guerras mundiais, porém em nenhuma delas houve bombardeio no país. A população dos EUA viu as grandes guerras pela imprensa, ao contrário dos diversos povos europeus e asiáticos. Quando participou efetivamente de uma outra guerra, no Vietnã, parte da população foi ganhando consciência do que ocorria e passou a se manifestar, contribuindo para a retirada dos exércitos norte-americanos da região
É interessante percebermos, como praticamente todos os professores de história, em vários momentos, se referem aos EUA como um país imperialista, e consequentemente, a maioria de nós, quando fomos alunos, ouvimos essas exposições e continuamos a ouvir em outros momentos de nossas vidas, mas mesmo assim, em momentos entendidos como “de comoção”, a grande maioria não consegue estabelecer uma relação entre as
diversas situações.

O Preconceito
Preconceito é o conceito formado antecipadamente sem o conhecimento dos fatos. O preconceito é uma herança cultural por isso é impossível não ter preconceito algum. O etnocentrismo, é o pensamento que leva as sociedades a acharem que sua cultura é a única válida e por conseguinte desprezar e, de forma mais radical, eliminar outras culturas.
Costumamos dizer aos nossos alunos: “o preconceito é fruto da ignorância”.
O preconceito é algo que esta enraizado em todas as sociedades, e que se apresenta das formas mais variadas. Cada um de nós esta sujeito a manifestar-se de forma preconceituosa devido a formação social que tivemos; mas é dever de cada um e do ensino, procurar entender suas origens e contribuir de forma decisiva para sua diminuição e eliminação.

Se devemos condenar o terrorismo praticado pelo ETA, devemos nos lembrar, que ninguém diz “terrorismo basco”, pois a maioria dos bascos não defende nem possuiu esta prática, sendo assim não devemos falar em “terrorismo árabe ou palestino”, como tornou-se comum na mídia e no cinema, principalmente depois que a “Guerra Fria” terminou.
Em 17 de julho de 1996, quando um avião da TWA caiu na costa de Nova York provocando a morte das 230 pessoas, as primeiras suspeitas recaíram sobre “algum árabe radical”. A idéia de atentado permeou o imaginário de milhões de norte-americanos, até ser comprovada a falha elétrica que causou a explosão do tanque de combustível.
O pior ataque terrorista sofrido pelos EUA em seu país até então havia sido a bomba colocada em frente a um prédio público em Oklahoma, em 1995, que provocou a morte de 168 pessoas. Novamente a idéia de terrorismo “árabe” foi propagada e, é interessante como a própria imprensa dos EUA apresentou a frustração do povo, quando foi preso o autor, um cidadão norte-americano, Timothy McVeigh, que foi condenado à pena de morte pelo crime e executado.

O atentado terrorista praticado no dia 11, nos EUA é repudiado por todos nós, que procuraremos utiliza-lo como exemplo para estimular a discussão sobre o significado do terrorismo e do preconceito.

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