quarta-feira, maio 27, 2009

Reforma e contra reforma religiosa - 6ª serie

A REFORMA RELIGIOSA

A crise da religiosidade

No fim da Idade Média, o crescente desprestígio da Igreja do Ocidente, mais interessada no próprio enriquecimento material do que na orientação espiritual dos fiéis; a progressiva secularização da vida social, imposta pelo humanismo renascentista; e a ignorância e o relaxamento moral do baixo clero favoreceram o desenvolvimento do grande cisma do Ocidente, registrado entre 1378 e 1417, e que teve entre suas principais causas a transferência da sede papal para a cidade francesa de Avignon e a eleição simultânea de dois e até de três pontífices.

Uma angústia coletiva dominou todas as camadas sociais da época, inquietas com os abusos da Igreja, que exigia dos fiéis dízimos cada vez maiores e se enriqueciam progressivamente com a venda de cargos eclesiásticos. Bispos eram nomeados por razões políticas e os novos clérigos cobravam altos preços pelos seus serviços (indulgências), e nem sempre possuíam suficientes conhecimento de religião ou compreendiam os textos que recitavam.

Com as rendas que auferiam, papas e bispos levavam uma vida de magnificência, enquanto os padres mais humildes, carentes de recursos, muitas vezes sustentavam suas paróquias com a instalação de tavernas, casas de jogo ou outros estabelecimentos lucrativos. Outros absurdos como a venda de objetos tidos como relíquias sagradas – por exemplo, lascas de madeira como sendo da cruz de Jesus Cristo – eram efetuados em profusão. Diante dessa situação alienante, pequenos grupos compostos por membros do clero e mesmo por leigos estudavam novas vias espirituais, preparando discretamente uma verdadeira reforma religiosa.

O Luteranismo na Alemanha

Na Alemanha, o frade agostiniano Martinho Lutero desenvolveu suas reflexões, criando a doutrina da justificação pela fé como único ponto de partida para aprofundar os ensinamentos que recebera. Segundo ele, "Deus não nos julga pelos pecados e pelas obras, mas pela nossa fé". Enquanto a concessão de indulgências como prática de devoção era entendida pelos cristãos como absolvição, a justificação pela fé defendida por Lutero não permitia atribuir valor às obras de caridade, opondo-se à teoria da salvação pelos méritos. Em 1517, Lutero publicou suas 95 teses, denunciando falsas seguranças dadas aos fiéis. Segundo diziam essas teses, só Deus poderia perdoar, e não o papa, e a única fonte de salvação da Igreja residia no Evangelho. Em torno dessa nova posição, iniciou-se na Alemanha um conflito entre dominicanos e agostinianos.

Em 1520 o papa Leão X promulgou uma bula em que dava 60 dias para a execução da retratação de Lutero, que então queimou publicamente a bula papal, sendo excomungado. No entanto, Lutero recebera grande apoio e conquistara inúmeros adeptos da sua doutrina, como os humanistas, os nobres e os jovens estudantes. Consequentemente, uma revolta individual transformou-se num cisma geral. Na Alemanha as condições favoráveis à propagação do luteranismo se acentuaram devido à fraqueza do poder imperial, às ambições dos príncipes em relação aos bens da Igreja, às tensões sociais que opunham camponeses e senhores, e o nacionalismo, hostil às influências religiosas de Roma.

O imperador do Sacro Império Romano-Germânico, Carlos V, tentou um acordo para tolerar o luteranismo onde já houvesse, mas pretendia impedir sua propagação. Cinco principados protestaram contra esta sanção, o que gerou o termo protestantismo. Sentindo a fragmentação cristã em seus domínios, Carlos V convocou a Dieta de Augsburg, visando conciliar protestantes e cristãos. Dada a impossibilidade de acordo, os príncipes católicos e o imperador acataram as condenações, na tentativa de eliminar o protestantismo luterano. Após anos de luta, em 1555, os protestantes venceram, e foi assinada a paz, que concedeu liberdade de religião no Santo Império. Lutero morreu em 1546, mas permaneceu como grande inspirador da Reforma.

O movimento luterano abriu caminhos para rebeliões políticas e sociais, não previstas por Lutero. Em 1524 eclodiu a Revolta dos Camponeses, composta em sua maioria por membros de uma nova seita, os anabatistas. Extremamente agressivos e individualistas, levaram às concepções de Lutero sobre a livre interpretação da Bíblia e reclamavam a supressão da propriedade e a partilha das riquezas da Igreja. Embora sustentando a idéia de liberdade cristã, Lutero submetia-se a autoridades legítimas, recusando-se a apoiar os revoltosos. Condenou então as revoltas e incitou os nobres à repressão. Os camponeses foram vencidos e o protestantismo se expandiu apenas para os países escandinavos (Suécia, Noruega e Dinamarca), sendo instrumento de rebelião dos burgueses e comerciantes contra os senhores de terra, que eram nobres católicos.

O Calvinismo na França

Na França, o teólogo João Calvino posicionou-se com as obras protestantes e as idéias evangelistas, partindo da necessidade de dar à Reforma um corpo doutrinário lógico, eliminando todas as primeiras afirmações fundamentais de Lutero: a incapacidade do homem, a graça da salvação e o valor absoluto da fé. Calvino julgava Deus todo poderoso, estando a razão humana corrompida, incapaz de atingir a verdade. Segundo ele, o arrependimento não levaria o homem à salvação, pois este tinha natureza irremediavelmente pecadora. Formulou então a Teoria da Predestinação: Deus concedia a salvação a poucos eleitos, escolhidos por toda a eternidade. Nenhum homem poderia dizer com certeza se pertencia a este grupo, mas alguns fatores, entre os quais a obediência virtuosa, dar-lhe-iam esperança.

Os protestantes franceses seguidores da doutrina calvinista eram chamados huguenotes, e se propagaram rapidamente pelo país. O calvinismo atingiu a Europa Central e Oriental. Calvino considerou o cristão livre de todas as proibições inexistentes em sua Escritura, o que tornava lícitas as práticas do capitalismo, determinando uma certa liberdade em relação à usura, enquanto Lutero, muito hostil ao capitalismo, considerava-o obra do demônio. Segundo Calvino, "Deus dispôs todas as coisas de modo a determinarem a sua própria vontade, chamando cada pessoa para sua vocação particular". Calvino morreu em Genebra, em 1564. Porém, mesmo após sua morte, as igrejas reformadas mantiveram-se em contínua expansão.

O Anglicanismo na Inglaterra

Na Inglaterra, o principal fato que desencadeou a Reforma religiosa foi a negação do papa Clemente VII a consentir a anulação do casamento do rei Henrique VIII com Catarina de Aragão, impedindo a consolidação da monarquia Tudor. Manipulando o clero, Henrique VIII atingiu seu objetivo: tornou-se chefe supremo da Igreja inglesa, anulou seu casamento e casou-se com Ana Bolena. A reação do papa foi imediata: excomungou o soberano e, em consequência, o Parlamento rompeu com Roma, dando ao rei o direito de governar a Igreja, de lutar contra as heresias e de excomungar. Consolidada a ruptura, Henrique VIII, através de seus conselheiros, organizou a Igreja na Inglaterra.

Entretanto, a reforma de Henrique VIII constituiu mais uma alteração política do que doutrinária. As reais alterações teológicas surgiram no reinado de seu filho, Eduardo VI, que introduziu algumas modificações fortemente influenciadas pelo calvinismo. Foi no reinado de Elizabeth I, porém, que consolidou-se a Igreja Anglicana. A supremacia do Estado sobre a Igreja foi afirmada e Elizabeth I tornou-se chefe da Igreja Anglicana independente. A Reforma na Inglaterra representou uma necessidade de fortalecimento do Estado, na medida em que o rei transformou a religião numa via de dominação sobre seus súditos.

A Contra-Reforma

A reação oficial da Igreja contra a expansão do protestantismo ficou conhecida como Contra-Reforma. Em 1542, o papa Paulo III introduziu a Inquisição Romana, confiando aos dominicanos a função de impô-las aos Estados italianos. A nova instituição perseguiu todos aqueles que, através do humanismo ou das teologias luterana e calvinista, contrariavam o ortodoxia católica ou cometiam heresias. A Inquisição também foi aplicada em outros países, como Portugal e Espanha. Em 1545, a Igreja Católica tomou outra medida: uma comissão de reforma convocou o Concílio de Trento, desenvolvido em três fases principais, entre 1545 e 1563, fixou definitivamente o conteúdo da fé católica, praticamente reafirmando suas antigas doutrinas. Confirmou-se também o celibato clerical e sua hierarquia. Em 1559 criou-se ainda o Índice de Livros Proibidos, composto de uma lista de livros cuja leitura era proibida aos cristãos, por comprometer a fé e os costumes católicos.

A Reforma Religiosa

O processo de transição feudo-capitalista teve na Reforma religiosa do século XVI a grande revolução espiritual que encaminhou o homem à modernidade. Não podemos considerar a Reforma uma simples manifestação de descontentamento, pois, ao romper a unidade do cristianismo ocidental, alterou profundamente a estrutura clerical e a visão sobre vários dogmas, como também uma revisão na essência da doutrina da salvação.

Em síntese, podemos entender a Reforma como uma tentativa de restauração do cristianismo primitivo ou verdadeiro que, de um modo geral, começou a se processar desde a Baixa Idade Média e atingiu sua maior amplitude com a Reforma protestante e a reação católica representada pela Contra-Reforma.

1. A Conjuntura e os Fatores

da Reforma

Com a crise do modo de vida feudal, o Renascimento urbano-comercial passou a determinar um novo contexto socioeconô-mico. A Igreja Católica, no entanto, com sua postura doutrinária acerca do empréstimo de dinheiro a juros e a busca do lucro em geral (usura), passou a representar um bloqueio ao espírito de acumulação pré-capitalista. Começou a se fazer sentir cada vez mais a necessidade de adequar a fé e os princípios religiosos à nova realidade econômica. Se de um lado tínhamos a burguesia nascente tentando conciliar a nova mentalidade do lucro e da acumu-lação de riqueza com sua consciência religiosa, a crise estrutural, pela qual passava o feudalismo, gerava uma atmosfera de tensões e conflitos entre os servos e os senhores feudais. As pressões senhoriais traduziram-se em constantes revoltas camponesas. Nesse contexto de transformações socioeconômicas, a crise religiosa passou a ser um elemento de convergência das lutas de classe. De um lado, o poder senhorial católico (nobreza feudal e

alto clero), do outro, a burguesia ascendente e o campesinato oprimido.

Do ponto de vista político, o processo de fortalecimento e centralização do poder real, que culminou com a formação das Monarquias Nacionais, fez surgir um Estado forte e dominador, o que tornou inevitável e imperioso o controle sobre a Igreja. Por outro lado, era oportuna a convulsão religiosa que permitiria aos soberanos confiscar os bens e submeter a Igreja à sua tutela, como veremos na Inglaterra de Henrique VIII ou na Alemanha de Martinho Lutero.

Nesse contexto de mudanças econômicas, sociais e políticas, surgiram as condições determinantes para a Reforma, levando em conta, contudo, que os problemas de ordem religiosa e espiritual tiveram fundamental importância. Não podemos associar essa verdadeira revolução da cristandade exclusivamente a fatores materiais, econômicos (capitalismo) ou políticos. A grande questão estava ligada à crise religiosa criada a partir da inadequação do clero (Igreja Católica) à qualificação da fé (Renascimento/ Humanismo).

A humanidade, no contexto da transição feudo-capitalista (século XVI), mantinha uma profunda fé em Deus. As provas de fé foram constantes ao longo da Idade Média; as Cruzadas, a construção de igrejas e as heresias heresias nos comprovam uma religiosidade intensa e fervorosa. Ao mesmo tempo, a partir do Renascimento, com o desenvolvimento técnico e o surgimento da imprensa, a publicação em série da Bíblia possibilitou a difusão e a cons-cientização religiosa dos fiéis, tornando-os mais exigentes e críticos em relação à Igreja Católica. Os humanistas como Erasmo de Roterdam (Elogio da Loucura) e Thomas Morus (Utopia) podem ser vistos como elementos dessa nova visão e consciência crítica, pois, ao condenar a ignorância e a imoralidade do clero, levantaram a necessidade da mudança.

A Reforma Religiosa

Podemos concluir que a essência da Reforma reside na crise moral da Igreja Católica, cujo poder e abusos contrastavam com suas pregações e atribuições. Tanto no alto quanto no baixo clero reinavam a imoralidade e a ignorância, que levaram ao comércio da fé e coisas sagradas (relíquias religiosas, milagres, etc.)

Muitos papas tiveram um comportamento essencialmente temporal, agindo como nobres eclesiásticos que praticavam das guerras ao mecenato, do luxo à venda de indulgências (venda do perdão). Todo esse panorama decadente levou ao fortalecimento dos concílios como tentativa de reduzir a influência externa e o envol-vimento do papa com o poder político. Porém, os escândalos continuaram a acontecer. Um dos acontecimentos que marcaram a conjuntura da eclosão do processo reformista envolveu o papa Leão X. Com vistas na construção da Basílica de São Pedro, em Roma, Leão X negociou a venda de indulgências na Alemanha com uma família de banqueiros alemães, os Fuggers, tornando a fé um negócio de caráter mercantil e financeiro.

Em suma, o crescimento do sentimento e consciência religiosa dos fiéis evidenciou os abusos e a corrupção do clero. A salvação pela obra jogou a fé para um segundo plano e provocou uma verdadeira onda de questionamentos sobre a função eclesiástica. Em uma conjuntura de transição, os problemas religiosos articularam-se a fatores econômicos, sociais e políticos, dando uma intensidade estrutural ao processo reformista.

2. A Reforma Luterana

Anúncio de sermão de Martinho Lutero na cidade de Wittenberg, em que ele expunha suas críticas à Igreja de Roma.

Martinho Lutero nasceu na Saxônia, no ano de 1483. Filho de um pequeno burguês, dedicou-se aos estudos de Direito Canônico e Filosofia. Ingressou posteriormente na ordem religiosa dos agostinianos, sendo indicado para a paróquia de Wittenberg. Tornou-se um professor de excelência em teologia e um religioso muito respeitado pela comunidade.

A Reforma Religiosa

No ano de 1517, fez forte oposição ao monge dominicano Tetzel, que vendia, na Alemanha, em nome do papa Leão X, indulgências para a construção da Basílica de São Pedro. Esse fato levou Lutero à formulação das 95 teses de propostas críticas de mudança da estrutura eclesiástica. Depois de ter fixado suas idéias na porta da catedral de Wittenberg, suas teses começaram a circular por várias regiões da Alemanha, recebendo apoio de setores da população, que se identificavam com a busca de purificação cristã proposta por Lutero.

No ano de 1520, o papa Leão X, por meio de uma bula papal, condenou Lutero por suas propostas e intimou-o a retratar-se, sob pena de ser considerado herege. Lutero reagiu queimando em público o documento papal, sendo excomungado e devendo se submeter a um julgamento secular. Condenado também pelos simpatizantes do imperador Carlos V, na Dieta de Worms, Lutero conseguiu refúgio no castelo de Wartburg, onde redigiu panfletos com suas idéias de reforma e traduziu a Bíblia para o alemão. Grande parte dos príncipes alemães o apoiaram porque desejavam romper com o imperador Carlos V e com a poderosa e influente Igreja Católica (papa).

Esses príncipes apoderaram-se das terras da Igreja Católica, fortalecendo, assim, o Estado.

As idéias de Lutero influenciaram o movimento de revolta camponesa dos anabatistas que, liderados por Thomas Munzer, tentaram tomar terras senhoriais e do clero. Lutero se opôs violentamente contra os anabatistas, gerando com isso uma verdadeira guerra religiosa. Essa posição de Lutero revelou o seu comprometimento com os príncipes e setores da nobreza alemã.

No ano de 1529, com a expansão das idéias reformistas, o imperador Carlos V convocou a Dieta de Spira, que decidiu pela permissão ao luteranismo nas regiões convertidas, preservando, no entanto, as regiões alemãs ainda católicas.

O protesto dos luteranos contra as medidas da Dieta resultaram no surgimento do termo protestantes.

Martinho Lutero e o teólogo Felipe Melanchton escreveram, no ano de 1530, a obra reformista Confissão de Augsburg , na qual foram estabelecidos os fundamentos da doutrina luterana. Entre eles, podemos destacar:

– a salvação não se alcança pelas obras, mas sim pela fé, pela confiança em Deus e pelo sofrimento interior;

– o culto religioso foi simplificado, baseando-se nos salmos e na leitura da Bíblia;

– valorizou-se o contato direto entre o fiel e Deus, dispensando-se o clero como intermediário;

– manutenção de dois sacramentos: o batismo e a eucaristia (comunhão), e no ritual da eucaristia, acreditava-se na presença de Jesus no pão e no vinho, negando a transformação do pão e do vinho no corpo e no sangue de Cristo (transubstanciação pregada pela Igreja Católica).

A gravura mostra Lutero no púlpito, a direita, divulgando suas idéias reformistas.

3. A Reforma Calvinista

Na Suíça, região de intenso e próspero comércio, teve início o processo de Reforma Protestante com Ulrich Zwinglio (1489-1531). Seguidor de Lutero e de Erasmo de Roterdam, Zwinglio promoveu pregações que resultaram em violenta guerra civil entre reformistas e católicos, na qual morreu.

A guerra teve seu final marcado pelo acordo conhecido como Paz de Kappel , que dava autonomia religiosa a cada "cantão" (região) suíço.

A obra de Zwinglio foi continuada por um francês, João Calvino, que, sofrendo forte perseguição em seu país, fugiu para a Suíça e, em Genebra, começou a propagar as bases de sua doutrina contidas na obra Instituição da Religião Cristã.


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A Reforma Religiosa

A doutrina calvinista teve grande aceitação entre os representantes da classe ascendente, a burguesia, na medida em que valorizava aspectos de seu interesse, tais como o trabalho e o acúmulo de riquezas. Entre seus fundamentos religiosos, podemos evidenciar a aceitação da Bíblia como única fonte da verdade, a exclusão do culto aos santos e às imagens, o combate ao celibato clerical e à autoridade papal, a manutenção dos sacra-mentos do batismo e da eucaristia e a justificação da usura e do lucro através da predestinação absoluta.

A doutrina calvinista consolidou-se por meio do Consistório, que estabeleceu em Genebra um rígido modelo de vida para os habitantes da cidade e suas atividades sociais.

Calvino criou uma doutrina mais severa que a de Lutero.

4. A Reforma Anglicana

A Reforma na Inglaterra foi gerada por um conjunto de fatores, dentre eles, a influência das idéias de John Wyclif, o nacionalismo inglês que se opunha ao poder da Igreja Católica e a necessidade de a Monarquia inglesa romper com Roma para centralizar o poder.

A Reforma Anglicana teve sua causa imediata ligada ao rompimento do rei inglês Henrique VIII com o papa Clemente VII. Henrique VIII pretendeu conseguir junto ao papa a anulação do seu matrimônio com Catarina de Aragão. Devido à oposição do papa, o rei inglês organizou um tribunal formado por bispos ingleses que aprovou, à revelia de Roma, a anulação do casamento real.

A reforma religiosa de Henrique VIII tinha objetivos principalmente políticos.

Essa atitude de rebelião ocasionou a excomunhão de Henrique VIII que, em resposta, fez com que o Parlamento inglês aprovasse o Ato de Supremacia (1534), pelo qual o rei era reconhecido como chefe da Igreja e de seus domínios na Inglaterra.

A Reforma Anglicana, diferentemente da luterana e da calvinista, não pode ser considerada tão radical, na medida em que manteve normas e rituais católicos, acrescentando-se, entretanto, princípios calvinistas.

O anglicanismo consolidou-se em definitivo durante o reinado da rainha Elizabeth I, quando esta obrigou o Parlamento a decretar a Lei dos 39 artigos (1562), que transformou a Igreja inglesa em um misto de catolicismo e calvinismo.


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A Contra-Reforma (Reforma

Católica)

O sucesso das reformas protestantes deu origem a uma forte reação da Igreja Católica, que teve como finalidade impedir o avanço reformista e reestruturar a Igreja Católica.

O Concílio de Trento, reunido de 1545 a 1563, teve importante papel na tentativa de barrar o avanço do protestantismo e resolver os graves problemas existentes no interior da Igreja Católica. Entre suas principais resoluções, podemos destacar: a afirmação da autoridade papal; manutenção do celibato clerical; confirmação dos sete sacramentos; elaboração do catecismo; tradução da Bíblia; criação de seminários e proibição das indulgências.

Outra importante instituição criada foi a Companhia de Jesus, fundada em 1534 por Ignácio de Loyola e aprovada pelo papa Paulo III. Essa ordem, organizada sob uma rígida hierarquia, dedicou-se à tarefa da catequese e educação através das quais combatia o avanço do protestantismo, promovendo a reafirmação dos dogmas católicos. Os jesuítas tiveram importante papel na conversão ao catolicismo de grande parcela da população indígena americana (missões e reduções).

Outra medida importante ordenada pela Igreja Católica para deter o avanço reformista foi a elaboração do Índex, catálogo de livros proibidos aos católicos. Obras renascentistas, humanistas ou reformistas eram queimadas em praça pública; se possível, com o autor junto.

Por fim, devemos salientar a reorganização do tribunal do Santo Ofício, também chamado de Inquisição, criado na Idade Média, e cuja tarefa era julgar e combater toda e qualquer manifestação anticatólica.

A igreja perdia adeptos e assistia à contestação e rejeição de seus dogmas, mas demonstrou no Concílio de Trento que ainda era muito poderosa e tinha capacidade de reação.



REFORMA RELIGIOSA E A CONTRA-REFORMA

Objetivo:

Mostrar o porquê do aparecimento de novas religiões, quais foram os motivos que levaram pessoas de importância, como reis e nobres a questionarem o poder da igreja. E também qual foi a reação da igreja ao surgimento de outras religiões.

Pré-requisito:

Ter lido a lição pensamento e cultura medieval, para poder entender as mudanças ocorridas na sociedade moderna.

REFORMA RELIGIOSA

A reforma religiosa, pode-se dizer que foi um movimento ou até mesmo uma revolução religiosa. Onde o poder total da igreja foi questionado, desafiado. Será que tudo que era dito pela igreja era verdadeiro? Deveria ser seguido cegamente, sem perguntas?

Essa situação ocorreu durante o séc. XVI, onde novas religiões cristãs surgiram.

A religião dominante começa a sofrer divisões. Esse aparecimento de novas religiões abalou a supremacia política e espiritual da igreja católica e a autoridade do Papa. Por isso o termo Reforma. Foi uma verdadeira reforma no lado mais importante de uma sociedade: o religioso.

A “reforma” , ou seja, o surgimento de novas religiões, não passou despercebido para a igreja católica. A reação católica a reforma foi chamada de CONTRA-REFORMA. Afinal uma instituição soberana não se deixaria vencer tão fácil.!

Essas crises marcaram também a passagem do feudalismo para o capitalismo.

Quando o império romano acabou , a igreja assumiu o papel público na educação, justiça e economia. Com todas essas funções seria lógico que nem todos concordariam com a união :estado e igreja.

A reforma, na verdade serviu para ajustar a sociedade ao modelo capitalista. Moldá-la aos novos ideais e valores, além das transformações econômicas da Europa.

QUAIS OS PRINCIPAIS MOTIVOS DA REFORMA??

Um motivo não foi só novas idéias. Mas a análise da conduta dos representantes da igreja. Muitos destes aproveitavam-se de seus cargos e do conceito popular de que eram intercessores dos homens perante Deus, para abusar dos seus privilégios, enriquecer e entrar na política. Toda essa má conduta serviu para estimular a divisão da religião.

Outro motivo foi na formação das monarquias nacionais, onde a igreja passou a ser encarada como barreira ao progresso econômico. Porque a igreja possuía muitas propriedades em vários países, que na época pagavam tributo a Roma. Mas com a queda de Roma, as monarquias começaram a desenvolver-se e uma consciência nacional começou a surgir, fazendo que o poder do rei ficasse em oposição ao da igreja.

Na economia, as teorias de condenação a usura, ou seja, a cobrança de juros, ia de encontro com a atividade bancária.

Na conduta, houve uma crise moral, que serviu como motivo para a reforma. Já que “eles pregavam, mas eles próprios não praticavam”. Essa corrupção moral atingia a todos os nível clericais.

Resumindo: a igreja deu motivos para uma divisão: vida sem regras, luxo do clero, venda de cargos, relíquias sagradas e indulgências( perdão papal pelos pecados).

Houve também o aparecimento de heresias e a oposição dos humanistas.

As heresias tinham idéias que eram contrárias a muitos dos ensinamentos da igreja. Além de atrair muitos adeptos que ansiavam por uma melhora.

Os humanistas também passaram começaram a criticar as atitudes da igreja.

Alguns destes foram: Erasmo de Roterdã, Thomas Morus, John Wyclif e John Huss. Os dois primeiros incentivavam uma reforma interna e depuração das práticas eclesiásticas.

John Wyclif, um professor universitário, atacou o sistema eclesiástico, a opulência do clero e a venda de indulgências. Para ele a base da verdadeira fé era a Bíblia. Além disso ele pregava o confisco dos bens dos clérigos na Inglaterra e o voto de pobres por parte deles.

John Huss era da universidade de praga, uniu à reforma religiosa o espírito de independência nacional do Sacro Império. Ele ganhou adeptos, mas ele foi preso, condenado e queimado na fogueira em 1415, pela decisão do concílio da Constança.

Acabou se tornando herói e símbolo da liberdade política e religiosa.

ONDE A REFORMA SE DESTACOU??

ALEMANHA

a origem da reforma

A Alemanha era uma região feudal e com comércio ao norte. Mas a igreja era dona de mais de um terço da região. Seus clérigos não tinham um bom comportamento e os nobres tinham interesses em suas terras. Esses fatores foram de importância para o desejo de autonomia em relação a Roma.

Martinho Lutero, era Frade agostiniano (1483- 1546) e não concordava com muitas coisas do alto clero, entre elas:

» o interesse sobre a economia e a riqueza feudal;

» o péssimo comportamento dos clérigos, que abusavam do seu poder;

» o afastamento da doutrina, dos textos sagrados;

ele começou a se manifestar na universidade de Wittenberg, Saxônia. Os pontos altos de sua doutrina foram:

» a salvação pela fé;

» a bíblia pode ser interpretada livremente;

» sacramentos importantes: batismo e eucaristia;

» a única verdade é a Escritura Sagrada;

» proibição do celibato clerical e o culto de imagens;

» submissão ao estado;

Claro que com essas idéias Martinho Lutero não passou despercebido. Em 1517, fixou as 95 Teses na porta da igreja . essas teses mostravam suas críticas e a nova doutrina.

Em 1521, Lutero foi excomungado pelo Papa Leão X, por meio de uma Bula papal, onde havia a ameaça de heresia. Mas a resposta de Lutero foi bem prática: queimou a bula em praça pública!

Lutero, mesmo perseguido, teve apoio da nobreza alemã. Que tinha forte interesse político e econômico na reforma. Visto que esta reforma liberaria os bens da igreja ao poder da nobreza.

O luteranismo se expandiu rapidamente. Mesmo em paises fortemente católicos, como Espanha e Itália.

Em 1530 , Lutero e o teólogo Filipe Melanchton escreveram a confissão de Augsburgo, base da doutrina luterana. Nesta época, um quarto da Antuérpia era luterana. Quando Carlos V, imperador Alemão , não quis oficializar o luteranismo, os príncipes fizeram uma confederação para protestar contra essa atitude.

Por isso o nome PROTESTANTES, ou seja, os seguidores da nova doutrina cristã. Por volta de 1550, muitos alemães já eram luteranos.

SUÍÇA

A Suíça, era uma região de próspero comércio e livre do Sacro Império.

A reforma protestante foi iniciada com Ulrich Zwinglio ( 1489-1531). Este era seguidor de Lutero. Suas pregações estimularam a guerra civil entre católicos e reformadores, onde ele próprio morreu. A guerra findou com a Paz de Kappel, onde cada região do país tinha autonomia religiosa.

Depois, o francês João Calvino, chega a Suíça. Em 1536, publicou a obra INSTITUIÇÃO DA RELIGIÃO CRISTÃ. Ele pede proteção para os Huguenotes,ao rei Francisco I.

Rapidamente suas pregações se espalharam e ele passou a ter controle sobre a vida política, religiosa e social das pessoas. Colocou uma censura tão rígida quanto à católica.

Sua doutrina baseava-se em:

» predestinação – o homem sendo dependente da vontade de Deus;

» sacramentos – o batismo e a eucaristia;

» condenação ao uso de imagens;

Calvino pregava que a riqueza material através do trabalho era um sinal que a pessoa estava destinada à salvação. Por isso foi tão bem aceita entre os burgueses.

INGLATERRA

Na Inglaterra, foi o rei Henrique VIII que tomou a frente na revolução protestante. Essa tinha caráter político. O rei rompeu com a igreja por motivos pessoais.

Ele queria divorciar-se de Catarina de Aragão para casar-se com Ana Bolena. O motivo da separação: ele queria ter um herdeiro para o trono inglês.

O papa negou a anulação do casamento, porque Catarina era aparentada de Carlos V, imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Logo o papa não queria ter problemas com Carlos que era seu aliado. Por isso Henrique VIII rompeu com a igreja em 1534. publicou pelo Parlamento o ATO DE SUPREMACIA. Esse documento o fazia chefe da igreja, que logo mais ficou conhecida como Anglicana. O Papa o excomungou , e ele com rei confiscou os bens da igreja católica na Inglaterra.

Suas reformas só terminaram com Elisabeth I, sua filha com Ana Bolena.

Na verdade , as bases do calvinismo estavam misturadas aos dogmas católicos.

O resultado foi: a independência diante Roma, tendo um monarca como chefe da igreja e a continuidade de certos tipos católicos, como: a hierarquia eclesiástica.

CONTRA-REFORMA

Com a expansão do protestantismo na Europa, a igreja católica entrava em crise. Por isso foram necessários meios para frear a expansão reformista.

Por isso o Papa Paulo III, em 1538, junto com um grupo religioso produziram um documento, onde se fazia uma auto-crítica aos interesses materiais da igreja e ao comportamento imoral de muitos clérigos.

Em 1534, A Companhia de Jesus foi fundada, seu idealizador foi Ignácio de Loyola. Esta ordem religiosa tinha a semelhança de um exército. Por terem uma obediência sem igual aos seus superiores e uma rígida conduta moral, os “soldados de Cristo”, como eram chamados os jesuítas possibilitaram uma reorganização no comportamento clerical.

O CONCÍLIO DE TRENTO

Em 1545, o Papa Paulo III , querendo modificar a igreja, convocou os membros do alto clero para uma assembléia. Onde o objetivo desse concílio era resolver os problemas da fé e eliminar vários atritos que levaram muitos a entrarem nas religiões protestantes.

Algumas das proibições foram:

» a venda de indulgências;

» a obrigatoriedade de se estudar em um seminário para se tornar um clérigo;

» a venda de cargos do alto clero;

Mas também foram reafirmados alguns dogmas:

» a salvação só pode ser através da fé e boas obras;

» celibato clerical;

» indissolubilidade do casamento;

» infabilidade da Papa;

» culto a virgem Maria e aos santos

» manutenção da hierarquia eclesiástica;

Foi neste Concílio que houve a reativação da Inquisição ou o tribunal do Santo ofício, para julgar e punir hereges, ou seja, aqueles que resolvessem questionar ou falar algo diferente dos dogmas católicos.

Para silenciar essas vozes, a inquisição usava do terror . com isso muitos foram condenados e executados. Também nesta época foi criado o INDEX- uma lista de livros proibidos pela santa Inquisição, isto serviu para atrapalhar o desenvolvimento cultural e científico.

A contra- reforma foi mais atuante em Portugal e Espanha. Com foram estes países que deram início a expansão marítima, a fé católica através dos jesuítas, foi levada as colônias nas Américas central e sul , enquanto o protestantismo foi para a América do Norte pelos ingleses.

Motivos

O processo de reformas religiosas teve início no século XVI. Podemos destacar como causas dessas reformas : abusos cometidos pela Igreja Católica e uma mudança na visão de mundo, fruto do pensamento renascentista.

A Igreja Católica vinha, desde o final da Idade Média, perdendo sua identidade. Gastos com luxo e preocupações materiais estavam tirando o objetivo católico dos trilhos. Muitos elementos do clero estavam desrespeitando as regras religiosas, principalmente o que diz respeito ao celibato. Padres que mal sabiam rezar uma missa e comandar os rituais, deixavam a população insatisfeita.
A burguesia comercial, em plena expansão no século XVI, estava cada vez mais inconformada, pois os clérigos católicos estavam condenando seu trabalho. O lucro e os juros, típicos de um capitalismo emergente, eram vistos como práticas condenáveis pelos religiosos.
Por outro lado, o papa arrecadava dinheiro para a construção da basílica de São Pedro em Roma, com a venda das indulgências (venda do perdão).
No campo político, os reis estavam descontentes com o papa, pois este interferia muito nos comandos que eram próprios da realeza.
O novo pensamento renascentista também fazia oposição aos preceitos da Igreja. O homem renascentista, começava a ler mais e formar uma opinião cada vez mais crítica. Trabalhadores urbanos, com mais acesso a livros, começaram a discutir e a pensar sobre as coisas do mundo. Um pensamento baseado na ciência e na busca da verdade através de experiências e da razão.

A Reforma Luterana

O monge alemão Martinho Lutero foi um dos primeiros a contestar fortemente os dogmas da Igreja Católica. Afixou na porta da Igreja de Wittenberg as 95 teses que criticavam vários pontos da doutrina católica.
As 95 teses de Martinho Lutero condenava a venda de indulgências e propunha a fundação do luteranismo ( religião luterana ). De acordo com Lutero, a salvação do homem ocorria pelos atos praticados em vida e pela fé. Embora tenha sido contrário ao comércio, teve grande apoio dos reis e príncipes da época.Em suas teses, condenou o culto à imagens e revogou o celibato.

A Reforma Calvinista

João Calvino - reforma religiosa na França João Calvino: reforma na França

Na França, João Calvino começou a Reforma Luterana no ano de 1534. De acordo com Calvino a salvação da alma ocorria pelo trabalho justo e honesto. Essa idéia calvinista, atraiu muitos burgueses e banqueiros para o calvinismo. Muitos trabalhadores também viram nesta nova religião uma forma de ficar em paz com sua religiosidade. Calvino também defendeu a idéia da predestinação (a pessoa nasce com sua vida definida).

A Reforma Anglicana

Na Inglaterra, o rei Henrique VIII rompeu com o papado, após este se recusar a cancelar o casamento do rei. Henrique VIII funda o anglicanismo e aumenta seu poder e suas posses, já que retirou da Igreja Católica uma grande quantidade de terras.

A Contra-Reforma

Preocupados com os avanços do protestantismo e com a perda de fiéis, bispos e papas reúnem-se na cidade italiana de Trento (Concílio de Trento) com o objetivo de traçar um plano de reação. No Concílio de Trento ficou definido :
- Catequização dos habitantes de terras descobertas, através da ação dos jesuítas;
- Retomada do Tribunal do Santo Ofício - Inquisição : punir e condenar os acusados de heresias
- Criação do Index Librorium Proibitorium (Índice de Livros Proibidos): evitar a propagação de idéias contrárias à Igreja Católica.

Intolerância

Em muitos países europeus as minorias religiosas foram perseguidas e muitas guerras religiosas ocorreram, frutos do radicalismo. A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), por exemplo, colocou católicos e protestantes em guerra por motivos puramente religiosos. Na França, o rei mandou assassinar milhares de calvinistas na chamada Noite de São Bartolomeu.

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