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A militarização da política
No início os seus militantes e principais quadros partidários foram largamente preenchidos por ex-combatentes, por veteranos da Primeira Guerra Mundial, que se sentiram frustrados, excluídos, quando não traídos pelos governos do após-guerra. Dai entender-se que tanto os chefes do movimento nazi-fascista (como Hitler e Mussolini) como seus seguidores mais próximos serem oriundos das trincheiras, e que, mesmo na paz, continuavam usando uniforme e celebrando a vida de soldados. Comportavam-se eles como se ainda estivesse entre seus camaradas no fronte de guerra. O fascismo foi, portanto, uma militarização da política, a transposição para a vida civil dos hábitos e costumes adquiridos por uma geração inteira de europeus que passaram quatro anos da sua existência condicionados pela brutal experiência de uma guerra terrível.
Essa experiência militar deles fez com que os partidos fascistas não somente usassem uniforme e obedecessem ao seu chefe do mesmo modo que os soldados seguem o seu general, como entendessem a política como um campo de batalha, na qual seus adversários não era vistos como rivais num quadro eleitoral, mas sim inimigos a serem encarcerados ou eliminados no futuro. A militarização da vida política, com o partido organizado como fosse um regimento do exército, disciplinado e obediente à uma hierarquia, teve como conseqüência a determinação deles de submeterem a sociedade civil por inteiro às regras militares. O que conduziu a que levassem a quartelização da sociedade por inteiro. Entendiam que travavam agora, finda a guerra, uma batalha para salvar a pátria, a sua pátria, ameaçada pela subversão comunista (inspirada na revolução bolchevique que ocorria, desde 1917, na Rússia), e pela debilidade da democracia liberal, incapaz de concentrar a energia necessária para retirar a nação da profunda crise econômica e moral com que saíra da guerra.
Difusão pelo mundo
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Objetivos políticos e raciais
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O nazismo, a vertente alemã do fascismo, elegeu ainda, como seu pior adversário, além dos já citados comunistas, os judeus. Seguidores da tradição anti-semita européia , atribuíam a eles todas as desgraças e vexações porque a Alemanha passara (a direita alemã debitou à derrota de 1918 aos comunistas e aos judeus que teriam dado "uma punhalada nas costas" do país). O violento anti-semitismo dele e sua política de defesa da eugenia - a obsessão pela pureza racial do homem ariano -, fez com que os nazistas terminassem por ordenar, entre 1939-45, o maior massacre de seres humanos até hoje registrado na história: o holocausto de todos os judeus europeus e o extermínio de todos aqueles que , segundo eles, "levavam uma vida indigna de ser vivida" (os loucos, menores excepcionais, portadores de males genéticos, idosos senis, etc.).
O fascismo americano
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A violência fascista
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O fascismo desapareceu quase que totalmente depois da completa derrota que os E.U.A, a Grã-Bretanha e a URSS, lhe impôs ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1945. E, posteriormente, com o desaparecimento da URSS em 1991, acredita-se que dificilmente poderá voltar a se insurgir, pois uma das suas principais motivações era a existência do comunismo.
O fascismo brasileiro
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No Brasil, visto suas características miscigenadas, o integralismo assumiu com mais ênfase o anticomunismo e não o racismo ou o anti-semitismo ( 65% dos militantes aderiram ao movimento por serem anticomunistas e somente 5% por sua posição anti-semita [H.Trindade, pag. 161]). Também marcou-o uma inclinação pela religiosidade que não encontramos nem no fascismo italiano e muito menos no neopaganismo nazista. Tanto é que o "Manifesto de Outubro" de 1932, redigido por Plínio Salgado, Chefe Nacional do Integralismo, inicia-se com a frase "Deus dirige os destinos dos povos".
Advogava o advento da "Quarta Humanidade" uma era que integrasse - daí o Integralismo - as etapas anteriores da história humana ( o sentimento de Cosmo da primeira, a iluminação pelo Verbo Divino da segunda, e o senhor dos elementos da terceira) para chegar ao Homem Integral gerado pela futura "Revolução Integral". O lema adotado foi o conservadoríssimo "Deus-Pátria-Família". Trindade diz que o personagem literário, o filósofo Mandaratuba, um pensador ultra-nacionalista e patriota, crente no corporativismo, fascinado pelos heróis e temerosos dos "bárbaros", criado por Plínio Salgado, é uma "caricatura autobiográfica" do próprio autor.
Organizavam-se em "legiões" e subdividiam-se em "bandeiras" e "terços" e cumprimentavam-se bradando "anauê", com o braço estendido a la romana. Chegaram a anunciar a militância de 500 mil de homens e mulheres. Tinham, devido a sua formação disciplinada e gosto pela hierarquia e pelo uniforme, muita simpatia por parte das Forças Armadas, especialmente entre os oficiais da Marinha, a mais conservadora das três forças.
O putsch integralista
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Os integralistas, não mais com esta denominação, chegaram no entanto ao poder muito tempo depois em apoio à Ditadura Médici (entre 1969-1974), quando vários dos seus antigos militantes assumiram governos estaduais (como no caso do RGS e do Estado do Rio) e elevados cargos ministeriais e administrativos.
Síntese geral do fascismo
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Os principais movimentos fascistas no entre-guerras (1919-1945)
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Bibliografia
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Buron, Thierry - Gauchon, Pascal - Os fascismos - Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1980
Fest, Joachim - Hitler - Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1976
Gertz, René - O fascismo no sul do Brasil - Editora Mercado Aberto, Porto Alegre-RS, 1987
Michel, Henri - Les Fascismes - Press Universitaires de France, Paris, 1983, 3ª ed.
Nolte, Ernst- El fascismo en su época - Ediciones Peninsula, Madri,1967
Shirer, William - Ascensão e queda do IIIº Reich - Editora Civilização brasileira, Rio de Janeiro, 4 vols., 1967
Trindade, Hélgio - Integralismo ( o fascismo brasileiro na década de 30) - Difel, São Paulo, 1974A terceira via
O Nazi-Fascismo
A situação crítica que se encontrava a Europa após a guerra concorreu para o surgimento de ideologias políticas totalitárias que se apresentavam como solução para todos os males. Crescia, portanto, uma terceira via, além da democracia liberal e do socialismo. O fascismo e sua versão alemã – o nazismo – são as maiores expressões deste quadro. Nos países em que o totalitarismo triunfou, sobretudo na Itália e na Alemanha,ocorrem situações parecidas: um regime democrático frágil, polarização entre a esquerda (comunistas e anarquistas) e a direita nacionalista, crise econômica e, por fim, a figura de um líder incorporando os símbolos nacionais.
Argumenta-se que o regime totalitário é uma resposta aos momentos de crise. No contexto histórico específico do fascismo, acrescenta-se o avanço das idéias socialistas como um fator explicativo importante. Esta idéia é defendida pelo historiador marxista Eric Hobsbawm. Segundo ele, a ascensão da direita totalitária foi uma espécie de resposta ao crescimento do poder operário, evidenciado na Revolução de Outubro, na Rússia. Hobsbawm continua dizendo que a direita radical já fazia parte do cenário político europeu desde o fim do século XIX, mas eram mantidos sob controle. O "perigo" socialista viria mudar este contexto.[1] Ainda neste aspecto econômico, diz-se que o fascismo surge como solução para os conflitos entre capital e trabalho. A burguesia, temerosa de perder o seu poderio neste conflito, alia-se então aos regimes totalitários de direita.
Outros estudiosos argumentam diferente. Priorizando o aspecto político, encontram-se aqueles que defendem a idéia de um "vazio hegemônico" para explicar o surgimento do nazi-fascismo. Este conceito é utilizado para caracterizar uma situação onde, em um determinado lugar, nenhum grupo social se encontra em condições políticas e econômicas de impor o seu projeto de poder. Neste momento, então, surge a figura de um líder que "toma pra si" a responsabilidade política de desenvolver a nação.
No caso italiano, a frustração em não conquistar alguns territórios desejados, somado às perdas obtidas durante a guerra criaram um ambiente fértil para a ascensão do regime de Mussolini. O nacionalismo era instigado. Greves e rebeliões em toda a parte demonstravam a situação social do país.O governo democrático não possuía autoridade suficiente para acalmar os ânimos. A burguesia então, receosa com o clima revolucionário, acabou apoiando aqueles que representavam uma opção política com a força e a capacidade necessária para controlar esta situação – os fascistas.
Depois de tentativas frustradas de tentar chegar ao poder por vias legais, em 1919, Mussolini percebeu que outra via era possível, e assim o fez. Com o agravamento da situação no país, mais grupos demonstravam apoio ao fascismo. Em 1922, Mussolini chegava ao poder para três anos depois eliminar a oposição e estabelecer o seu regime totalitário.
Na mesma época em que se consolidou o regime fascista na Itália, Hitler lançava seu livro - Mein Kampf (Minha Luta) – onde desenvolvia suas teorias raciais e dava corpo à futura ideologia nazista. Sua obsessão pela pureza da raça, seu ódio aos judeus e seu nacionalismo exacerbado foram suas marcas, além de um gênio político-militar que poucos ousaram reconhecer. O desejo de um Império Alemão Central (o espaço vital) composto apenas daqueles pertencentes à "raça superior ariana" foi um objetivo buscado até a sua morte.
O ambiente político e econômico em que se deu o surgimento e o desenvolvimento dos nazistas na Alemanha foi semelhante àquele visto na Itália fascista. No entanto, após investimentos norte-americanos no pós-guerra a Alemanha se recuperou economicamente.
Diferente da Itália, na Alemanha havia uma industrialização suficiente para se ter um proletariado bem definido. Após a Primeira Guerra Mundial, além de ter sido considerada a "culpada pela guerra", foi imposto aos alemães um governo social-democrata – a "República de Weimar". No entanto, este tipo de governo necessita de recursos econômicos para manter a política social à qual ela se propõe. Na falta de capital, crescem as oposições à este regime de governo. A partir disto, o fator principal que veio ajudar em muito a ascensão de Hitler foi a Crise de 1929. O país, de todos os europeus que haviam passado pela industrialização, foi o mais atingido pela crise econômica. Um terço da população era de desempregados, a polarização entre nazistas e comunistas aumentava. A partir daí, o estabelecimento do regime nazista na Alemanha se deu de forma meteórica. Já em 1933, em poucas semanas Hitler passou de Chanceler para Führer.
Várias foram as mudanças introduzidas com a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha. Os partidos foram extintos e os judeus foram perseguidos. Por outro lado, o Führer conseguiu praticamente acabar com o desemprego, através da promoção de inúmeras obras públicas. Mas como questiona Duroselle, "ao preço de que deterioração moral?".[2] Além disso, com nacionalismo exagerado, Hitler ressurgiu e construiu diversos símbolos nacionais, a fim de obter a unidade do povo alemão. Nada escapava ao alcance da ideologia totalitária. Até os juízes faziam a saudação nazista.
Cabe ressaltar que o Estado totalitário, diversas vezes, se apropria de elementos do discurso socialista, uma vez que o "público alvo" era o mesmo – as camadas sociais mais baixas. Além disso, ambos possuem um sistema de partido único e o desprezo pela individualidade, priorizando o coletivo. Por isso, muitos autores costumam assemelhar o regime fascista do regime socialista da URSS. De fato, os dois regimes foram totalitários, utilizando, porém, um discurso ideológico distinto.
Além disso, a utilização dos meios de comunicação em massa para a propagação da ideologia totalitária também foi uma constante. O culto à personalidade, o ideal de nação, o coletivo/corporativismo (em detrimento ao individualismo exaltado pela ideologia liberal), o nacionalismo, o racismo, enfim, diversos elementos foram costurados com o intuito de corporificar um discurso ideológico que sobrepujasse toda e qualquer oposição ao regime. Além disso, os nazi-fascistas se caracterizam pelo ativismo, ou seja, o uso da força e da violência, sobretudo contra as correntes de esquerda – comunistas, socialistas e anarquistas.
O Estado totalitário não abre mão do capitalismo. O que ele faz de diferente é a não adoção da democracia, do liberalismo (e sua prerrogativa do individualismo). O totalitarismo intervém na economia porque acredita que acima dos interesses particulares estão os interesses da nação, do conjunto de indivíduos. Um slogan utilizado pelos nazistas dizia tudo: "você não é nada, o povo é tudo".
Bibliografia consultada:
DUROSELLE, J. B. A Europa de 1815 aos nossos dias. São Paulo: Ed. Pioneira, 1985.
HOBSBAWM, Eric J. A era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
[1] HOBSBAWM, Eric J. A era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 127.
[2] DUROSELLE, J. B. A Europa de 1815 aos nossos dias. São Paulo: Ed. Pioneira, 1985,p.95.
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